Comentário de Judas 1.23-25
Por João Calvino
“23. E salvai alguns com temor, arrebatando-os do fogo, odiando até a túnica manchada da carne.
24. Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória,
25. Ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade, domínio e poder, agora, e para todo o sempre. Amém.”
23. “Odiando até a túnica”. Esta passagem, que de outro modo pareceria obscura, não terá nenhuma dificuldade quando a metáfora for corretamente explicada. Ele queria que os fiéis não apenas se guardassem do contato com os vícios, mas, para que nenhum contágio os alcançasse, ele os lembra de que tudo o que faz limite com os vícios e está próximo deles deve ser evitado; assim como, quando falamos da lascívia, dizemos que todos os incitamentos aos prazeres deveriam ser removidos. A passagem também se tornará mais clara quando toda a sentença é completada; isto é, que devemos odiar não apenas a carne, mas também a túnica, que, pelo contato com aquela, é infectada. A partícula kai (e) até serve para dar maior ênfase. Assim sendo, ele não admite que o mal seja nutrido através da indulgência, de modo que manda que todos os preparativos e todos os acessórios, como dizem, sejam cortados.
24. “Ora, àquele que é poderoso para vos guardar”. Ele encerra a Epístola com oração a Deus, com o que mostra que nossas exortações e esforços nada podem fazer exceto através do poder de Deus acompanhando-os.
Algumas cópias trazem “os” ao invés de “vos”. Se recebermos esta leitura, o sentido será: “De fato, é o vosso dever esforçardes por salvá-los; mas somente Deus é quem pode fazer isto”. Contudo, a outra leitura é a que eu prefiro, na qual há uma alusão ao verso precedente. Pois, após ter exortado os fiéis a salvarem o que estava perecendo, para que entendessem que todos os seus esforços seriam vãos a não ser que Deus operasse por meio deles, ele testifica que aqueles não poderiam ser salvos de outro modo senão através do poder de Deus. Nesta última cláusula na verdade existe um verbo diferente, phulaxai que significa guardar. Assim a alusão é a uma cláusula mais remota, quando ele disse: Guardai-vos.
João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 18/09/2014