Comentário de Judas 1.12
Por João Calvino
“Estes são manchas em vossas festas de amor, banqueteando-se convosco, e apascentando-se a si mesmos sem temor; são nuvens sem água, levadas pelos ventos de uma para outra parte; são como árvores murchas, infrutíferas, duas vezes mortas, desarraigadas;” (Judas 1.12)
“Estes são manchas em vossas festas de caridade”. Aqueles que leem: “entre vossas caridades”, conforme penso, não explicam suficientemente o verdadeiro significado. Pois ele chama de caridades (agapais) aquelas festas que os crentes tinham entre si para testemunhar sua unidade fraternal. Tais festas, diz ele, eram desonradas por homens impuros, que depois se alimentavam em excesso, pois nelas havia a maior frugalidade e moderação. Então não era correto que fossem admitidos esses devoradores, que depois eram indulgentes consigo mesmos em excessos em quaisquer outros lugares.
Algumas cópias trazem: “Banqueteando-se convosco”—leitura que, se aprovada, tem este significado, de que eles não apenas eram uma desgraça, mas também eram incômodos e dispendiosos, uma vez que se empanturravam sem temor, às custas públicas da igreja. Pedro fala de modo um pouco diferente (2 Pe 2:13), dizendo que eles se deleitavam em erros, e banqueteavam-se com os fiéis, como se tivesse dito que agiam inconsideradamente aqueles que alimentavam tão perniciosas serpentes, e que eram extremamente insensatos aqueles que encorajavam o luxo excessivo deles. Hoje em dia eu gostaria que houvesse mais juízo em alguns homens bons que, procurando ser extremamente gentis com homens maus, causam grande dano a toda a igreja. (Nota do Pr Silvio Dutra: Este é um mal bastante comum em nossos dias, quando vemos a grande maioria dos crentes indultando a muitos que fizeram a si mesmos pastores para viverem às expensas da exploração dos membros da Igreja alimentando a vida abastada e desregrada que eles tanto apreciam.)
“São nuvens sem água”. As duas comparações presentes em Pedro são dadas aqui numa só, mas com o mesmo propósito, pois ambas condenam a vã ostentação. Estes homens inescrupulosos, embora prometessem muito, interiormente eram estéreis e vazios, tal como nuvens levadas por ventos tempestuosos, as quais dão esperança de chuva, mas logo se desfazem em nada. Pedro acrescenta a comparação de uma fonte seca e vazia, mas Judas emprega outras metáforas com o mesmo fim, que eles eram árvores murchas, assim como o vigor das árvores desaparece no outono. Ele os chama depois de árvores infrutíferas, desarraigadas, e duas vezes mortas, como se tivesse dito que não havia seiva no interior, mesmo que aparecessem folhas.
João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 22/09/2014