Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Comentário de Judas 1.6
Por João Calvino

“E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande dia;” (Judas 1.6)

“E aos anjos”. Este é um argumento do maior para o menor. Pois o estado dos anjos é mais elevado que o nosso, e contudo Deus puniu a sua deserção deles de um modo terrível. Assim sendo, ele não perdoará a nossa perfídia, se nos afastarmos da graça para a qual nos chamou. Este castigo, infligido sobre os habitantes do céu, e sobre ministros de Deus tão superiores, certamente deveria estar constantemente diante de nossos olhos, para que em momento algum sejamos levados a desprezar a graça de Deus, e assim nos precipitarmos abruptamente em destruição.
A palavra arché nesta passagem pode ser entendida propriamente como princípio, bem como principado ou domínio. Judas sugere que eles sofreram castigo porque haviam desprezado a bondade de Deus e desertado da sua primeira vocação. E aí segue-se imediatamente uma explicação, pois ele diz que eles haviam deixado a sua própria habitação. Como desertores militares, eles deixaram o posto em que haviam sido colocados.

Devemos também notar a atrocidade da punição que o Apóstolo menciona. Eles não são apenas espíritos livres, mas poderes celestiais. Agora estão presos por cadeias perpétuas. Eles não apenas desfrutavam da luz gloriosa de Deus, mas seu resplendor brilhava neles, de modo que a partir deles, como que em raios, ela se espalhava por todas as partes do universo. Agora estão imersos  em trevas. Mas não devemos imaginar um certo lugar em que os demônios estejam encerrados, pois o Apóstolo simplesmente pretendia nos ensinar quão miserável é a condição deles, visto que, no momento em que apostataram, eles perderam a sua dignidade. Para onde quer que sigam, eles arrastam consigo as suas cadeias, e permanecem envoltos em trevas. Entrementes, o castigo extremo deles é adiado até que chegue o grande dia.
João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 23/09/2014
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