Comentário de João 7.28
Por João Calvino
“Jesus, pois, enquanto ensinava no templo, clamou, dizendo: Vós não somente me conheceis, mas também sabeis donde eu sou; e não vim porque eu, de mim mesmo, o quisesse, mas aquele que me enviou é verdadeiro, aquele a quem vós não conheceis.” (João 7.28)
“Portanto, Jesus exclamou no templo”. Ele os repreende duramente pela sua temeridade, porque eles arrogantemente gabavam-se num falso parecer, e desta forma se excluíam de um conhecimento da verdade; como se ele tivesse dito: "Vocês sabem todas as coisas, mas vocês nada sabem." E, na verdade, não existe uma forma de praga mais destrutiva do que quando os homens estão tão intoxicados pela porção escassa de conhecimento que eles possuem, que ousadamente rejeitam qualquer coisa que seja contrária à sua opinião.
“Vocês me conhecem, e sabem de onde eu sou”. Esta é uma linguagem irônica. Com a falsa opinião que haviam formado a respeito dele, ele contrasta o que é verdadeiro; como se tivesse dito: "Enquanto vocês têm seus olhos fixados na terra, vocês acham que cada parte de mim está diante de seus olhos; e, portanto, me desprezam como vil e desconhecido. Mas Deus testemunha que eu vim do céu; e embora eu possa ser rejeitado por vocês, Deus vai reconhecer que eu sou verdadeiramente seu próprio Filho."
“Mas aquele que me enviou é verdadeiro”. Ele chama a Deus de verdadeiro, no mesmo sentido que Paulo chama de fiel, “Se somos infiéis”, ele diz, “ele permanece fiel, pois não pode negar a si mesmo” (2 Timóteo 2.13).
Pois seu objetivo é provar que o crédito devido ao Evangelho não é no menor grau diminuído pelo maior esforço do mundo para desfazê-lo; que, embora os homens ímpios possam tentar tirar de Cristo o que lhe pertence, ele ainda continua intacto, porque a verdade de Deus é firme e sempre será como Ele mesmo.
Cristo vê que ele é desprezado; mas até agora ele está longe de se render, pelo contrário, ele corajosamente repele a arrogância furiosa daqueles que não o tinham em qualquer estima. Com tal fortaleza inabalável e heróica todos os crentes devem ser dotados; ou melhor, jamais, a nossa fé será sólida e duradoura, a menos que tratemos com desprezo à presunção de homens ímpios, quando eles se levantam contra Cristo. Acima de tudo, os professores piedosos, contando com esse apoio, devem perseverar na manutenção da sã doutrina, mesmo que eles tenham que sofrer oposição do mundo todo. Assim Jeremias apela a Deus como seu defensor e guardião, porque ele é condenado como um impostor: “Persuadiste-me, ó Senhor, e persuadido fiquei; mais forte foste do que eu e prevaleceste; sirvo de escárnio todo o dia; cada um deles zomba de mim.” (Jeremias 20.7).
De igual modo Isaías, oprimido por todos os lados por calúnias e injúrias, voa para este refúgio, que Deus irá aprovar a sua causa (Isaías 50.8). E também Paulo, oprimido por julgamentos injustos, recorre contra tudo se firmando no dia da volta do Senhor (1 Coríntios 4.5), reconhecendo que é suficiente ter a Deus somente para nos guardar contra o mundo inteiro, embora este possa se apresentar enfurecido e tempestuoso contra nós.
“Aquele a quem vós não conheceis”. Ele quer dizer que não é surpreendente que ele não seja conhecido pelos judeus, porque eles não conhecem a Deus; porque o início da sabedoria é, contemplar a Deus.
Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.
João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 30/09/2014