Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Comentário de João 7.16
Por João Calvino

(Nota do tradutor: Calvino comentou antes, os versículos precedentes a este, nos quais vemos os judeus contestando a autoridade de Jesus, e a sua doutrina, afirmando que não podia ser de origem divina, por que sabiam que ele era filho de José e de Maria - se bem que não sabiam que ele não filho biológico de José pois tivera seu corpo formado no ventre de Maria, quando virgem, pelo poder do Espírito Santo, sem que José tivesse coabitado com ela até que Ele tivesse nascido – e também se escandalizavam nele e o rejeitavam porque não havia estudado nas escolas rabínicas para que pudesse ser considerado um mestre de religião entre os judeus.)

“Respondeu-lhes Jesus: O meu ensino não é meu, e sim daquele que me enviou.” (João 7.16)

    “A minha doutrina não é minha”. Cristo mostra que essa circunstância, a qual foi uma ofensa para os judeus, era sim uma escada pela qual eles deveriam subir mais alto para perceber a glória de Deus; como se tivesse dito, "Quando você vê um professor não treinado na escola dos homens, você sabe que eu tenho sido ensinado por Deus." Porque a razão pela qual o Pai Celestial determinou que seu filho deveria proceder da oficina de um carpinteiro, em vez das escolas dos escribas, foi para que a origem do Evangelho pudesse ficar mais evidente, para que ninguém pudesse pensar que tinha sido originado na terra, pela imaginação de qualquer ser humano que fosse o seu autor. Assim também Cristo escolheu homens ignorantes e sem instrução para serem seus apóstolos, e lhes permitiu permanecer três anos na ignorância, quando, poderia tê-los instruído em um único instante, fazendo-lhes novos homens, e até mesmo como anjos que tinham acabado de descer do céu.
    “Mas daquele que me enviou”. Nesse comenos, Cristo mostra onde devemos derivar a autoridade da doutrina espiritual - somente de Deus. E quando ele afirma que a doutrina de seu Pai não é dele, ele olha para a capacidade dos ouvintes, que não tinham uma elevada opinião dele senão a de que fosse um mero homem. A título de concessão, portanto, ele se permite ser contado diferente de seu Pai, mas, de modo a antecipar nada senão aquilo que o Pai havia ordenado. A suma do que se afirma é, que o que ele ensina em nome de seu Pai não é uma doutrina de homens, e não procede de homens, de modo que alguém seja capaz de desprezá-la com impunidade. Vemos por qual método ele atribui autoridade para sua doutrina. É referindo-se a Deus como seu autor. Vemos também, com que base, e por que razão, ele exige que ele deve ser ouvido. É porque o Pai o enviou para ensinar. Ambas as coisas deveriam ser observadas por cada homem que toma sobre si o cargo de professor na Igreja, e que deseja que ele deva ser acreditado.

Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.
João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 01/10/2014
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