Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Quem Ama a Verdade Vem para a Luz - Comentário de João 3.20,21
Por João Calvino

“20 Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem arguidas as suas obras.
21 Quem pratica a verdade aproxima-se da luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque feitas em Deus.”

20. “Porque todo aquele que pratica o mal”. O significado é que a luz é odiosa para eles por nenhuma outra razão, senão de que são maus e desejam esconder seus pecados, tanto quanto esteja ao seu alcance. Por isso segue-se que, por rejeitarem o remédio, pode ser dito deles que propositalmente se agradam da razão da sua condenação. Estamos muito enganados, portanto, se supusermos que os que estão enfurecidos contra o Evangelho são movidos pelo zelo divino, quando, pelo contrário, eles abominam e evitam deliberadamente a luz, para que possam se gloriar mais livremente na escuridão.
21. “Mas quem pratica a verdade”. Esta parece ser uma declaração indevida e absurda, a menos que você opte por admitir que alguns são retos e verdadeiros, antes de terem sido renovado pelos Espírito de Deus, os quais, em nenhum grau, concordam com a doutrina uniforme da Escritura; pois sabemos que a fé é a raiz da qual surgem os frutos de boas obras. Para resolver essa dificuldade, Agostinho diz, que praticar a verdade significa "reconhecer que somos miseráveis ​​e indigentes de todo o poder de fazer o bem ", e, certamente, isto é uma verdadeira preparação para a fé, quando uma convicção da nossa pobreza nos obriga a fugir para a graça de Deus. Mas tudo isso é amplamente removido do significado de Cristo, pois ele pretendia simplesmente dizer que aqueles que agem sinceramente desejam nada mais intensamente do que a luz, para que a suas obras possam ser provadas; porque, quando tal prova tem sido feita, torna-se mais evidente que, aos olhos de Deus, eles falam a verdade e estão livres de todo o engano. Agora seria um raciocínio inconclusivo, inferirmos a partir disso, que os homens têm uma boa consciência, antes de terem fé; porque Cristo não diz que os eleitos creem, como para merecer o louvor de boas obras, mas somente o que os incrédulos fariam, se não tivessem uma má consciência.
Cristo empregou a palavra verdade, porque, quando somos enganados pelo brilho  exterior das obras, não consideramos o que está escondido dentro. Assim, ele diz, que os homens que são retos e sem hipocrisia entram voluntariamente na presença de Deus, o único que é o Juiz competente de nossas obras. Porque dessas obras é dito serem feitas em Deus ou de acordo com Deus, que são aprovadas por Ele, e que são boas de acordo com a Sua regra. Portanto, vamos aprender que não devemos julgar as obras de qualquer outra maneira do que por trazê-las à luz do Evangelho, porque a nossa razão é totalmente cega.

Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.
João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 04/10/2014
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