João Calvino
“Havia, entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus.” (João 3: 1)
“Ora, havia um homem dos fariseus”.
Na pessoa de Nicodemos, o Evangelista exibe agora, a nosso ver, quão vã e passageira era a fé daqueles que, tendo sido animados por milagres, de repente professavam ser discípulos de Cristo, pois desde que este homem era da ordem dos fariseus e ocupava o posto de um governante em seu país, ele deve ter sido muito mais excelente do que outros.
As pessoas comuns, em sua maior parte são superficiais e instáveis; mas quem não teria pensado, que aquele que era letrado e experiente era também um homem sábio e prudente?
No entanto, da resposta de Cristo é evidente, que nada estava mais distante do seu propósito em ter vindo a este mundo, do que uma pretensão de aprender os primeiros princípios da religião.
Se ele, que era um príncipe entre os homens é menos do que uma criança; o que deveríamos pensar da multidão em geral?
Agora, embora o desígnio do Evangelista tenha sido o de exibir, como em um espelho; quão poucos houve em Jerusalém que estavam corretamente dispostos para receber o Evangelho.
Ainda por outras razões esta narrativa é muito útil para nós especialmente, porque nos instrui sobre a natureza depravada do homem, sobre o que é a entrada correta na escola de Cristo, e qual deve ser o início do nosso treinamento para fazer progressos na doutrina celeste, porque a suma do discurso de Cristo é, que a fim de que possamos ser seus verdadeiros discípulos, devemos nos tornar homens novos.
Mas, antes de prosseguir mais adiante, temos de confirmar pelas circunstâncias que são aqui descritas pelo Evangelista, quais foram os obstáculos que impediram Nicodemos de entregar-se sem reservas a Cristo.
“Dos fariseus”. Esta designação era sem dúvida, estimada por seus conterrâneos como honrosa para Nicodemos, mas não é por uma questão de honra que isto lhe é atribuído pelo evangelista que, ao contrário, chama a nossa atenção para o que o impediu de vir voluntária e alegremente a Cristo.
Por isso, somos lembrados, que aqueles que ocupam uma posição elevada no mundo são em sua maioria, envolvidos por muitas armadilhas perigosas - não vemos muitos deles tão firmemente empenhados, nem mesmo o menor desejo ou oração surge a partir deles para o céu ao longo de toda sua vida.
Porque eles foram chamados fariseus, temos explicado em outra parte; pois se gabavam de serem os únicos expositores da Lei, como se estivessem na posse do cerne e do sentido escondido da Escritura; por essa razão eles se chamavam phrvsym (Perushim).
Embora os essênios levassem uma vida mais austera, que granjeou-lhes uma grande reputação de santidade; ainda porque como eremitas, abandonaram a vida cotidiana, os costumes dos homens, e a seita dos fariseus era tida em estima mais elevada.
Além disso, o Evangelista menciona não somente que Nicodemos era da ordem dos fariseus, mas que ele era um dos governantes de sua nação.
Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.