Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Sal para o Sacrifício
   Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

   "E todas as tuas ofertas dos teus alimentos temperarás com sal; e não deixarás faltar à tua oferta de alimentos o sal da aliança do teu Deus; em todas as tuas ofertas oferecerás sal.” (Levítico 2.13)

   Os verdadeiros israelitas traziam muitas oblações e ofertas de diferentes tipos a Deus. E estou convicto de que, se o Senhor tem incendiado nossos corações em chamas com o Seu próprio amor, que, também, estaremos frequentemente dizendo: "Que darei eu ao Senhor por todos os Seus benefícios? "Será o hábito do cristão, como era o hábito do devoto israelita, estar trazendo continuamente oblações ao seu Deus.
   Como isso pode ser feito? Esse é o ponto. Nós precisamos, cada um de nós, dizer com Paulo: "Senhor, o que queres que eu faça?" E podemos acrescentar outra pergunta: "Como queres que eu faça?" Porque o culto voluntário não é agradável a Deus se Lhe trouxermos o que Ele não pedir, e que certamente não será recebido. Nós só devemos apresentar a Ele o que Ele requer de nós e devemos apresentá-lo à Sua própria maneira, pois é um Deus zeloso.
   Eu chamo a sua atenção para o fato de que, nesse versículo, o Senhor três vezes ordena expressamente que, as ofertas de cereais e todas as demais ofertas deveriam ser oferecidas com sal. Será que o grande Deus que fez o céu e a terra tem interesse no sal? Será que Ele condescende com esses detalhes minuciosos em Seu serviço como para decretar que a ausência de um punhado de sal fosse a causa de um sacrifício inaceitável - e que a presença do mesmo seria absolutamente necessária para a oblação ser recebida por Ele? Então, meus irmãos, nada no serviço de Deus é insignificante! Uma pitada de sal pode parecer a nós que não seja importante, mas diante do Senhor não pode ser assim. No serviço de Deus, a alteração de uma prescrição de Cristo pode parecer ser uma questão de indiferença, e ainda em que a alteração não possa destruir os pontos vitais da prescrição, ocorrerá uma destruição total de seu significado. Isto é seu e é meu - manter a letra da Palavra de Deus, bem como o espírito dela, lembrando que está escrito: "Aquele que violar um destes mais pequeninos    mandamentos e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no Reino dos Céus.”
   Se você ler todo o segundo capítulo de Levítico, vai notar que outras coisas eram necessárias em conexão com os sacrifícios dos israelitas. Seus sacrifícios eram como símbolos e emblemas e precisavam de incenso quando eram oferecidos a Deus. Deus não sentiria o cheiro suave no novilho, carneiro, ou cordeiro, a menos que fossem adicionadas especiarias aromáticas. O que isso nos ensina, senão que as melhores performances de nossas mãos não devem    aparecer diante do Seu trono sem o mérito de Cristo misturado a elas?
   Deve haver aquela mistura de mirra, aloés e cássia com a qual as vestes de nosso Príncipe são perfumadas para fazer o nosso sacrifício ser um doce aroma para o Altíssimo! Tome cuidado em seus sacrifícios para que você traga o incenso sagrado.
   Outra coisa que era acrescentada era o azeite – o óleo é sempre o tipo do bendito Espírito de Deus. Qual é a utilidade de uma pregação se não houver unção nela? O que é unção, senão o Espírito Santo? O que é a oração sem a unção que vem do Espírito Santo? O que é louvor a menos que o Espírito de Deus esteja nele para dar aquela vida que o faz subir para o céu? O que vai para Deus deve primeiro vir de Deus. Precisamos do azeite - não podemos ministrar sem ele.
   Então havia um terceiro requisito, ou seja, o sal. Se você ler o versículo 11, você verá que o Senhor proibiu os israelitas de apresentarem qualquer mel. "Nenhuma oferta de alimentos, que oferecerdes ao Senhor, se fará com fermento; porque de nenhum fermento, nem de mel algum, oferecereis oferta queimada ao Senhor.”
O mel está cheio de doçura - e Deus não pede doçura, Ele pede sal.
   Qual é o significado de tudo isso? Nós não podemos pronunciar qualquer significado tipológico com certeza a menos que tenhamos a Escritura para nos dirigir, mas ainda, usando o nosso melhor julgamento, o que vemos, em primeiro lugar, é que o texto é autoexplicativo. Observe, "e não deixarás faltar à tua oferta de alimentos o sal da aliança do teu Deus".
   Parece, então, que o sal era o símbolo da Aliança. Quando Deus fez um pacto com Davi, está escrito: "O Senhor deu o reino a Davi para sempre por um Pacto de sal "- o que significava que era uma Aliança imutável, incorruptível, que duraria como o sal faz uma coisa ser preservada, de modo que não é susceptível de apodrecer ou se corromper.
"O sal da Aliança" significa que sempre que você e eu estamos trazendo qualquer oferta ao Senhor, devemos tomar cuidado para que nos lembramos da Aliança. Parados no altar com a nossa oferta, servindo a Deus com o nosso serviço diário, ofereçamos sempre o sal da aliança em todos os nossos sacrifícios.
Aqui está um homem que está fazendo boas obras, a fim de ser salvo. Você está sob o Pacto errado, meu amigo, você está sob o   Pacto de Obras e tudo o que vai ganhar dessa forma é uma maldição, porque, "Maldito é todo aquele que não permanece em todas as coisas que estão escritas no Livro da Lei, para fazê-las." "Portanto", diz o Apóstolo, "todos quantos são das obras da lei estão debaixo da maldição."
   Chegue-se a esse outro Pacto que tem sal nele, a saber, o Pacto da Graça, a Nova Aliança do qual Cristo é a Cabeça! Não podemos chegar a Deus sem o sal da fé em Cristo, ou nossas ofertas serão uma espécie de anticristo. Um homem que está tentando salvar a si mesmo está em oposição com o Salvador. O que pensa do mérito das suas próprias boas obras, despreza o mérito da obra consumada de Cristo!
   Ele está oferecendo a Deus aquilo que não tem sal e não pode ser recebido.
   Precisamos desse sal da Aliança em tudo o que fazemos, em primeiro lugar, para nos preservar de cair na legalidade. Aquele que serve a Deus por salários esquece a palavra - "O dom de Deus é a vida eterna." Isto não é salário, mas um dom, um presente, pelo qual você viverá. Se você se esquecer que está sob um pacto de pura graça, no qual Deus dá aos indignos e salva aqueles que não têm nenhum mérito para qualquer bênção da Aliança, você vai viver numa base legalista. E, uma vez em terreno legal, Deus não pode aceitar o seu sacrifício, pois determinou salvar e abençoar somente por graça.
Com todas as tuas ofertas ofereça o sal do Pacto da Graça, para que não seja culpado de legalismo em sua oferta.
Devemos também lembrar de exercer gratidão no Pacto.
Sempre que penso em Deus entrando em Aliança comigo, a qual nunca será desfeita, meu amor por Ele cresce. Oh, aquela gratidão sentida por tudo o que vem a nós pelo Pacto da Graça
Oh, isso torna a vida muito doce – receber tudo das mãos de um Deus do Pacto e ver em cada misericórdia uma nova promessa da Aliança de fidelidade! Isto torna a vida feliz e também inspira um crente a fazer grandes coisas pelo seu Deus gracioso.
   Isso tende a despertar a nossa devoção a Deus. Quando nos lembramos de que Deus tem entrado em aliança conosco, então não fazemos o nosso trabalho para Ele de uma maneira fria, morta – mas dizemos: "Eu sou um dos amados da aliança de Deus." Ele tem feito uma aliança eterna comigo, em tudo bem ordenada e segura;    portanto, minha alma vai buscá-lo, embora seja só para cantar um hino, ou ficar de joelhos em oração, isto deve ser feito intensamente, como por aquele que está em aliança com Deus, que está, portanto, obrigado a servir de todo o coração e com toda a sua alma, e com toda a sua força.
Onde você está se estiver fora da Aliança com Deus? Você está sob a maldição da Antiga Aliança, se você não está sob a bênção da Nova! Mas se o Senhor Jesus Cristo tem sido um Fiador em seu nome e feito uma Aliança contigo, você vai servir a Deus com entusiasmo e prazer – e Ele aceitará o seu serviço como uma oferta de cheiro suave em Cristo Jesus.
   Esse é o primeiro significado do texto. Mas, em segundo lugar, o sal é o sinal da comunhão. No Oriente, especialmente, é o símbolo de comunhão. Quando um oriental tem uma vez comido sal de um homem, ele não lhe fará mal algum.
   Sempre que você estiver tentando servir a Deus, tome cuidado para que o faça em espírito de comunhão com Deus. Tome cuidado para que não deixe este sal faltar à sua oferta de cereais. Ofereça-o em comunhão com Deus.

   Amados, nós nunca servimos a Deus alegremente, se    sairmos da comunhão com Ele. "Seus servos o servirão e eles verão a Sua face." Não há como servir a Deus agradavelmente, a menos que você veja Seu rosto. Uma vez que você sentir seu amor a Deus morrendo e a Presença de Deus retirada, você pode viver pela fé, mas você não pode trabalhar com conforto. Você deve sentir uma doce amizade com Deus, ou então não terá tanto gosto em entregar-se ao serviço de Deus como os santos devem fazer.
O sal é também o emblema da SINCERIDADE. "Com todas as tuas ofertas oferecerás sal." Deve haver uma sinceridade intensa sobre tudo o que fazemos para Deus.
A isto se contrapõe o mel. Há uma espécie de uma piedade melosa que eu nunca poderia tolerar. É sempre, "Querida isso", e, "Querido aquilo". É uma espécie de conversa melada em que uma pessoa nunca fala a pura verdade. Ele fala como familiarmente como se soubesse tudo sobre você e daria sua vida por você, embora nunca tenha colocado os olhos em você antes e nunca iria dar um tostão para salvar a sua vida! Essas pessoas evitam repreender o pecado, porque para elas isto é "cruel". Evitam denunciar erros. Eles dizem: "Esta visão querido irmão difere ligeiramente da minha.”
   Quando o mel vem ao fogo, ele azeda. Toda esta doçura fingida, quando testada no fogo, azeda - não há amor verdadeiro   nisso. Mas o sal, que é afiado e quando chega à ferida gera formigamento, no entanto, faz um bom serviço.
   Sempre que você vier diante de Deus com as suas ofertas, não venha com a pretensão de um amor que você não sente, mas venha diante do Senhor de forma sóbria, sincera e verdadeira.
   E quando trouxermos o nosso coração e aplicá-lo intensamente no serviço de Deus, que é uma forma de sal, vamos tomar cuidado para que tudo o que fizermos seja espiritualmente realizado - não feito com a mão externa, ou lábios, ou olhos, mas feito com a alma, com o mais íntimo do nosso ser!
   Caso contrário, será simples carne e, sem sal, ela será vista como corrupta e rejeitada no altar de Deus.
   Quando você tenta orar e de joelhos tem a sensação de que não orou, então não deixe o propiciatório, mas ore até que esteja orando de fato!
   Nós comemos nossas devoções desagradáveis sem sal – e o Senhor as rejeita. Nós tivemos alguns minutos em oração na manhã e, talvez, apenas alguns minutos cansados à noite. Percorremos um capítulo da Bíblia, mas sem qualquer vida. Ou temos pregado, mas tem sido uma mera exposição de palavras - não houve vida ou vigor na mesma.
   Oh, não o faça! Não traga a Deus seus sacrifícios sem sal, mas deixe o sal de sinceridade saborear tudo. É melhor dizer: "Eu não orei", do que dizer: "Eu orei" e apenas ter cumprido uma formalidade.  
   Por último, o sal é o tipo de purificação de todos os nossos sacrifícios.
O sal na carne afasta a corrupção. Ele a preserva.
Há certos homens dos quais pode-se dizer que é um santo no exterior e um diabo em casa. Deus irá estimá-lo pelo que ele é em casa - e não pelo que faz no exterior. Ele pode trazer o sacrifício sobre o altar, mas se for levado para lá com as mãos sujas e com um coração profano, Deus não terá nada a ver com isso! "Sem santidade nenhum homem verá o Senhor" e, certamente, sem santidade ninguém pode servir o Senhor. Temos as nossas imperfeições, mas o pecado conhecido e intencional, nos afasta de Deus.
   Lembre-se que a Graça de Deus traz santificação com ela e que o dom de Deus é a libertação do pecado - e se permanecermos em pecado não podemos ser filhos de Deus!
Precisamos, queridos amigos, trazer com todas as nossas oblações o sal em nós mesmos, que deve purificar nossos corações de corrupção interior.
Não sabeis que os santos são o sal da terra? E se nós somos o sal para os outros, temos de ter sal em nós mesmos. Como podemos vencer o pecado nos outros, se o pecado está invicto em nós mesmos? Como podemos dar uma luz que nunca vimos?
Irmãos e irmãs, precisamos ser santos! Devemos ser santos, ou senão deixaremos de ser o que somos. Deus nos traga isto - que a cada oblação possamos oferecer enormes punhados de sal! Que possamos sempre ser aceitos em Cristo, aceitos com um sabor santo e agradável a Deus porque o Seu Espírito nos fez santos e nos mantém diante dEle. O Senhor te abençoe sempre! Amém.
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 19/08/2015
Comentários
Site do Escritor criado por Recanto das Letras