Vida Cristã Real
“7 Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós.
8 Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados;
9 perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos;
10 levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo.
11 Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal.” (2 Co 4: 7-11)
Estas palavras expressam a condição real da vida de todo crente autêntico neste mundo.
Há diversas realidades aqui apresentadas pelo apóstolo, que se fossem analisadas em todos os seus ângulos, certamente vários tratados seriam escritos sem poder esgotá-las, uma vez que se referindo à vida e não apenas à vida natural, mas à espiritual que temos em Cristo é um tema eterno e infinito.
A condição prevalecente enquanto estamos neste mundo é a de que somos vasos de barro, cuja excelência que pode haver em nós não procede de nossa natureza caída no pecado, mas da nova natureza que nos foi implantada pelo Espírito Santo.
Se há, portanto algum poder realizador para o que é santo, justo e bom em nós, isto pertence totalmente a Deus, e de nós mesmos não temos qualquer parte nisto.
Pode parecer exagerado fazer tal afirmação, porém é a mais pura verdade, pois em nossa condição caída não temos qualquer excelência espiritual; ao contrário, entregues a nós mesmos estamos mortos em delitos e pecados, totalmente incapacitados para as coisas que são celestiais, espirituais e divinas.
Para sermos aperfeiçoados em santidade, especialmente em aprendermos a ser longânimos, pacientes, alegres, gratos, pacíficos, mansos, humildes; assim como estas virtudes estão em Cristo, somos sujeitados por Deus a muitas aflições que nos vêm sob a forma de tentações, tribulações, perplexidades, perseguições, ou abatimentos, pelos quais somos levados a conhecer e reconhecer que somos de fato, pecadores fracos incapazes de estarmos sempre contentes, alegres e em paz com Deus, caso não sejamos revestidos pela Sua graça e renovados pelo Espírito Santo.
Qual é o resultado de tudo isto senão que, por mais que seja nosso desejo de estarmos em boa disposição de ânimo, em todo o tempo na presença de Deus, não raro, isto não será possível; não porque não o desejamos, mas porque o próprio Deus nos manterá sob provação para que saibamos distinguir quão diferentes somos quando capacitados por Ele, de quando deixados por um tempo, ainda que breve, sem tal assistência sobrenatural.
Isto explica, porque um pregador pode estar cheio de unção do alto ao ministrar um sermão, e em outro momento achar-se vazio e sem poder, ainda que tenha se consagrado, orado e se preparado muito para tal - é a vontade soberana do Senhor que faz a diferença.
O amor a Cristo, à Sua Palavra e vontade permanece no coração do crente fiel em todo o tempo, mesmo nestes momentos de deserto espiritual que é chamado a atravessar.
Se não há uma alegria efusiva que se mostra no exterior, e se há muitas angústias pressionando sua alma, todavia ele sente uma alegria silenciosa interna em seu coração, por saber pertencer ao Senhor e ser amado por Ele.
Assim, a par de tudo que possa sofrer neste mundo, o crente permanecerá sustentado pela graça de Deus para que não fique angustiado, desanimado, sem esperança ou desamparado, abandonado e destruído, pois fiel é o que prometeu jamais deixá-lo ou desampará-lo.
Ao aprender na experiência prática o quanto há de injustiça, perversidade, pecaminosidade no mundo, e de todo o mal que habita em sua própria natureza terrena, o crente se sente como crucificado para o mundo, e o mundo para ele.
Ele percebe o quão vã e passageira é toda a glória que há no mundo, e toda a alegria carnal não passa de um disfarce para encobrir a ausência da verdadeira alegria, que somente pode ser achada na comunhão com Deus, em espírito.
Neste ponto, o crente percebe que de fato, conforme o Senhor afirmou, ele não pertence a este mundo e começa a sentir aspirações para ser transladado para sua verdadeira pátria, a saber, o céu.
É pela companhia dos santos aperfeiçoados na glória celestial, que ele aspira, e se sente um peregrino e estrangeiro neste mundo.
Este é o efeito de estar “levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo.”
Assim, com toda a sorte de tribulações e aflições, quer externas, quer internas, o crente sentirá que é sempre entregue à morte do seu velho homem, para que a vida de Jesus se manifeste em sua carne mortal.