Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos

 

Isto é o Dedo de Deus p 2


                                                         

 

(1) O primeiro pecado nacional que citarei é a cobiça.
O que intenciono com isso é o amor excessivo ao dinheiro, e o desejo de ser rico neste mundo. É certo que nunca houve uma busca por riquezas, como nos dias atuais.
Ganhar dinheiro e morrer rico parece ser a maior virtude e a maior sabedoria; no entanto, Deus disse que a
“avareza é idolatria”!
[Cl 3: 5];

e,
“o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males”.
   [1 Tm 6:10]
 
(2)
O segundo pecado nacional que citarei é a luxúria e o amor ao prazer.
Com certeza, nunca houve um tempo em que as pessoas buscassem com tanta avidez, por prazer, diversão, e gratificação dos seus sentidos.
Muitos são;

“... mais amigos dos prazeres que amigos de Deus”, [2 Tm 3: 4]
 
(3)
O terceiro pecado nacional que citarei é a negligência quanto ao dia do Senhor.
Esse dia abençoado está rapidamente se tornando em muitos lugares, um dia para passeios e entretenimento, e não o dia de Deus.
No entanto, a profanação do “sabbath” foi especialmente, um dos pecados que provocaram os julgamentos de Deus sobre os judeus:

“…Mas a casa de Israel se rebelou contra mim no deserto, não andando nos meus estatutos e rejeitando os meus juízos, os quais, cumprindo-os o homem, viverá por eles; e profanaram grandemente os meus sábados...”  [Ez 20:13]
“... E vós ainda trazeis ira maior sobre Israel, profanando o sábado.
[Ne 13: 18]

(4) O quarto pecado nacional que citarei é a embriaguez.
A quantidade de bebida inebriante consumida todos os anos na Inglaterra é algo assustador.
O número de cervejarias, fábricas de gim e bares em nossas grandes cidades é uma prova constante, de que somos um povo sem temperança.
Todos os domingos à noite, há mais pessoas em bares do que nas igrejas e capelas.
Somos piores nesse aspecto, do que a França ou a Itália. No entanto, Deus disse:

“... nem bêbados… herdarão o reino de Deus”.  [1 Co 6: 10]
 
(5) O quinto pecado nacional que citarei é a imoralidade.

“Não adulterarás”. [Êx 20: 14]
Na cidade e no campo, entre ricos e pobres, o senso de pureza entre os jovens está no ponto mais baixo - no entanto, Deus disse:
“Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas coisas vem a ira de Deus…” [Ef 5: 6]
 
(6)
O sexto pecado nacional que citarei é uma tendência crescente a olhar de modo favorável para a Igreja Católica Romana. 
A própria igreja que queimou os nossos mártires há trezentos anos, reteve a Bíblia de nosso povo, tirou a nossa liberdade, e até hoje coloca a virgem Maria praticamente no lugar de Cristo – é favorecida e tratada com condescendência por milhares!
Parece que estamos sendo limitados, por uma cegueira em nosso discernimento.
A linha entre tolerância e favorecimento parece estar apagada.
O grande desejo de muitos é “voltar ao Egito!”.

 
(7)
O último pecado nacional que citarei é a crescente disposição ao ceticismo e à infidelidade.
Pouco a pouco, homens em posições eminentes estão deixando de honrar a Deus. Ano após ano, a Bíblia é mais abertamente contestada, e sua autoridade, atacada.
Crer na Bíblia já foi uma marca de um cristão.

Nos dias atuais, um ministro inglês ousa se chamar cristão e ainda assim, se orgulhar de pensar que grande parte da Bíblia não é verdadeira.
Estou convencido, de que nada é tão ofensivo a Deus, quanto desonrar a Sua Palavra escrita.
Eu acredito firmemente, que essas coisas estão provocando a Deus contra a Inglaterra. Elas são uma ofensa ao Rei dos reis, pela qual Ele está nos punindo hoje; e a vara que Ele está usando é a peste bovina!

 

O dedo de Deus, creio, está apontando para os nossos sete grandes pecados nacionais.
Dizer que não somos tão ruins quanto algumas nações, e que os pecados que citei são muito mais abundantes em outros países do que na Inglaterra, não serve como argumento de modo algum.
Nós tivemos mais privilégios do que outros países, portanto Deus pode, com justiça, requerer mais de nós.

“... Mas àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão”.  [Lc 12: 48]
“De todas as famílias da terra, somente a vós outros vos escolhi; portanto, eu vos punirei por todas as vossas iniquidades”.  
[Am 3: 2]
 

Eu poderia facilmente falar mais sobre os pontos que mencionei, mas propositadamente me abstenho de fazê-lo.
Estou ansioso para tornar este livreto o menor possível; para isso me contento em fornecer pouco mais do que sementes de pensamento, que espero que possam germinar e frutificar em muitas mentes.
Resta apenas oferecer algumas conclusões práticas.

 
III.
O que a peste bovina convoca todos a fazer?
Ao responder a essa pergunta, o leitor entenderá claramente, que escrevo apenas como um ministro cristão.
Que os políticos façam as melhores leis que puderem para atender à atual situação de emergência.
Que os médicos usem todos os meios possíveis para refrear a peste, e pacientemente tentem todos os remédios.
Que os agricultores não negligenciem nada que possa estar disponível para impedir o contágio, diminuir o risco de infecção, e acabar com a praga, quando ela surgir, porém meu ponto de vista é o da Bíblia.

À luz desse Livro, faço a minha pergunta final:
O que todos nós devemos fazer?
Por um lado, consideremos os nossos caminhos.
Essa é uma época de pressa, agitação, inquietação e rapidez. Ferrovias e telégrafos mantêm todos em um estado de excitação doentia. Agora, quando a mão de Deus está estendida contra nós, certamente seria bom que sentássemos e pensássemos um pouco.
Não estamos vivendo uma vida muito agitada?
Não seria bom, se houvesse mais leitura da Bíblia, mais adoração no domingo, mais esforço calmo e tranquilo, para servir a Deus e honrá-Lo?

 

Feliz é aquele homem, e feliz aquela nação que começa a pensar!
Por outro lado, vamos todos nos humilhar diante de Deus, e reconhecer a Sua mão.
Infelizmente, somos uma nação orgulhosa e presunçosa! Somos aptos a pensar que nós, ingleses, somos as pessoas mais sábias, mais excelentes, mais ricas e mais corajosas do mundo. Estamos tristemente cegos para as nossas muitas falhas e pecados.
Certamente, quando a mão de Deus está tão claramente estendida contra nós, é hora de abandonar esse espírito orgulhoso - pois, se há algo que Deus odeia, é a soberba!

Está escrito:
O temor do Senhor consiste em aborrecer o mal; a soberba, a arrogância, o mau caminho e a boca perversa, eu os aborreço”.  [Pv 8:13]
“A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda.”   [Pv 16: 18]
“Eis que eu sou contra ti, ó orgulhosa, diz o Senhor, o Senhor dos Exércitos; porque veio o teu dia, o tempo em que te hei de castigar”.  [Jr 50: 31]
“Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão, e próspera tranquilidade teve ela  e suas filhas; mas nunca amparou o pobre e o necessitado”. [Ez 16: 49]
“... e pode humilhar aos que andam na soberba.” [Dn 4: 37]
“Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado.”  [Mt 23:12]
 
Por outro lado, cada um de nós deve se esforçar individualmente para romper com nossos próprios pecados recorrentes e corrigir os nossos caminhos. 
É fácil encontrar falhas no governo e culpar os outros, quando estamos com problemas.
O melhor caminho é olhar para dentro de nós mesmos, e tentar fazer nossa própria parte para melhorar as coisas. Os pecados de uma nação são constituídos pelos pecados de um grande número de indivíduos.
Ora, se todo indivíduo tentar mudar sua própria vida e fazer melhor, toda a nação logo melhorará.
A cidade logo fica limpa, quando cada homem cuida de sua própria porta.

 
Por outro lado, cada um de nós deve usar qualquer influência que temos para refrear o pecado nos outros. 
O poder que pais, patrões, patroas e empregadores têm a esse respeito é muito grande. Se todos se esforçassem para controlar a quebra do sabbath, o excesso de entretenimento, de ociosidade, de embriaguez e de imoralidade – isso seria um ganho imenso para a condição geral da nação.
Nunca devemos esquecer, que a influência sobre os outros é um talento, sobre o qual um dia prestaremos contas.
Receio que há milhares de pais e empregadores que enterram completamente esse talento. Eles permitem que, os que estão sob sua autoridade cometam pecados e, como Eli, nunca os reprovam.

Está escrito:
Porque já lhe disse que julgarei a sua casa para sempre, pela iniquidade que ele bem conhecia, porque seus filhos se fizeram execráveis, e ele os não repreendeu.[1 Sm 3:13]
 
Por outro lado, sejamos cada um de nós mais dispostos a fazer algo de bom no mundo.
É um fato triste, que o aumento de doações para fins de caridade na Inglaterra nos últimos tempos, não tem proporção alguma com o aumento da riqueza.
O comércio e os negócios do país, provavelmente dobraram nos últimos vinte e cinco anos, no entanto a renda da maioria de nossas grandes sociedades religiosas está quase parada.
Se os ingleses não se lembrarem de que o seu ouro e sua prata são apenas um empréstimo concedido por Deus, e que, portanto devem ser usados ​​para Ele — eles não deverão se surpreender, se Deus os lembrar disso por visitações como a peste bovina.
A mão que dá riquezas a uma nação é a mesma mão que pode tirá-las!
Por último, mas não menos importante; resolvamos oferecer uma oração especial a Deus pela remoção do juízo que agora temos sobre nós.
Seja o que for que façamos, devemos orar.
A Palavra de Deus nos encoraja a isso:

“Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças.”  [Fp 4: 6]
“Está alguém entre vós sofrendo? Faça oração...”  [Tg 5: 13]
 

Se eu cerrar os céus de modo que não haja chuva, ou se ordenar aos gafanhotos que consumam a terra, ou se enviar a peste entre o meu povo”;
“se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra”. 
[2 Cr 7: 13, 14]
 

A presença de nosso Senhor Jesus Cristo no céu, à destra de Deus, nos convida a isso.
Aquele que morreu pelos pecadores na cruz está sentado ali, para ser o Advogado e Amigo dos pecadores. Ele pode ser tocado com o senso de nossas enfermidades, e conhece as provações da nossa condição terrena.
Os exemplos das Escrituras nos justificam quanto a isso. Os homens de Nínive se humilharam e clamaram fortemente a Deus, e Deus ouviu o seu clamor:

“E não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive, em que há mais de cento e vinte mil pessoas, que não sabem discernir entre a mão direita e a mão esquerda, e também muitos animais?”  [Jn 4: 11]

O caráter do próprio Deus faz com que não orar seja algo insensato:
“porque não aflige, nem entristece de bom grado aos filhos dos homens”.  [Lm 3: 33]
“E, passando o Senhor por diante dele, clamou: Senhor, Senhor Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade”;
[Êx 34: 6]
“Invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás”. 
[Sl 50: 15]
 

Oremos:
“Deus todo-poderoso, que ordena todas as coisas no céu e na terra, e em cuja mão está a vida dos homens e dos animais, tem piedade de nós, pecadores miseráveis que agora são visitados com essa grande doença e mortalidade entre nosso gado.
Nós não temos nada a dizer por nós mesmos; confessamos humildemente que merecemos o Teu castigo, por causa de nossos muitos pecados nacionais, mas poupe-nos, bom Senhor, de acordo com as Suas muitas misericórdias.
Não nos trate segundo os nossos pecados. Livra-nos dessa praga dolorosa, e restaure a saúde do nosso gado.
Acima de tudo, desperta entre nós o verdadeiro arrependimento, e aumente a verdadeira religião na terra.
Pedimos tudo em nome, e através da mediação de Jesus Cristo, nosso Senhor, a quem, conTigo e com o Espírito Santo, seja toda honra e glória.
Amém

J C Ryle
Enviado por Silvio Dutra Alves em 27/09/2021
Alterado em 28/10/2023
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