Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos

 

 

 

 

 

 

 

“Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras.

Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.

Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários.

Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés.

De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça?

Ora, nós conhecemos aquele que disse: A mim pertence a vingança; eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo.

Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo.” [Hb 10: 24-31]

 

Viver deliberadamente em pecado” mesmo depois de ter “recebido o pleno conhecimento da verdade” do Evangelho, corresponde a uma condição extremamente perigosa de ser isto uma evidência de se estar debaixo de uma condição de condenação eterna para a qual o sacrifício de Jesus não se mostrará eficaz para revertê-la. E o motivo disto é que há no caso, um desprezo ao sangue derramado por nosso Senhor, e por conseguinte um ultraje à operação de regeneração e santificação do Espírito Santo, pelas quais o amor de Deus é derramado em nossos corações. E se o amor a Deus e ao próximo é o maior mandamento, não há então maior pecado do que aquele que é contra o amor verdadeiro que nasce e cresce em nós à medida que seguimos o pendor, ou seja, a inclinação do Espírito Santo que dá para a vida. A verdade em sendo conhecida é para ser praticada, e se não é colocada em prática, o resultado é que o poder da Palavra do evangelho, não será misturado à fé, e com isto não ocorrerá uma real conversão a Cristo.

Não é sem razão que pela multiplicação da iniquidade que está ocorrendo em nossos dias, que o amor de muitos se tem esfriado conforme foi profetizado por Jesus. Muitos estão desprovidos até mesmo de afeto natural, de gentileza, de bondade, de ternura, e quanto mais do amor ágape que é espiritual em sua natureza e que nos vem somente se andarmos no Espírito. Na verdade, até mesmo para os sentimentos, afeições, e emoções naturais, dependemos da ação do Espírito em nossos corações para que sejamos neles aperfeiçoados.

 

No afã de facilitar as coisas para os crentes, muitos teólogos e mestres modernos abrandaram as consequências de um viver deliberado em pecado, sob o falso argumento, de que o fato de terem professado sua fé em Jesus, já lhes garantiu a entrada no céu, e a condição de filhos eternos de Deus.

Todavia, há um grande perigo nisso, porque em nenhum lugar a Bíblia apresenta tal ensino, o que pode gerar um falso convencimento de se ter sido justificado e regenerado (salvo), quando na verdade, a pessoa não o foi de fato.

A passagem que destacamos acima revela a grandeza desse perigo, de se viver deliberadamente na prática do pecado, porque o sacrifício de Jesus não será eficaz para estes que não se arrependem e não se santificam.

Com isto concordam muitas outras passagens bíblicas como, por exemplo, o que é dito pelo apóstolo João:

“Aquele que diz: Eu o conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade.”

“Aquele que diz estar na luz e odeia a seu irmão, até agora, está nas trevas.” [1 Jo 2: 4, 9]

“Todo aquele que permanece nele não vive pecando; todo aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu.”

“Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus”.

“Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não pratica justiça não procede de Deus, nem aquele que não ama a seu irmão”. [1 Jo 3: 6, 9, 10] Neste texto, o apóstolo apresenta como uma grande evidência de uma real conversão, o amor aos irmãos, porque a habitação e as operações do Espírito Santo em nós, nos faz crescer principalmente no amor.

“Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado; antes, Aquele que nasceu de Deus o guarda, e o Maligno não lhe toca.” [1 Jo 5: 18]

Se não há, portanto uma luta em nosso interior, do Espírito Santo contra a carne, uma vez que a carne sempre há de lutar contra o Espírito e, se nunca temos a experiência de ver a carne sendo vencida pelo Espírito, é para colocarmos em questão, se somos de fato, salvos por Jesus, uma vez que no crente quem reina é a graça, e não mais o pecado.

O domínio do pecado é vencido pela graça, que passa a dominar em seu lugar. Esta inclinação para se vencer o pecado e não nos sujeitarmos a ele, nos vem da parte do Espírito Santo, quando buscamos andar em obediência a Deus, para que o Seu santo nome seja glorificado por nós.

Há várias ordenanças na Bíblia que são dirigidas aos crentes, para que eles se santifiquem, e isto pode ser entendido, até mesmo numa comparação com aquilo que é natural: se alguém constrói um navio, não o fará para que fique para sempre ancorado no porto - ele deve ser útil para o propósito para o qual foi criado, atravessando os mares.

Agora, de quanto maior uso deve ser para Deus, aquele que foi justificado e regenerado por Ele, sendo feito santo. Deus, de antemão já preparou todas as boas obras em que ele deve se empenhar; isto somente será feito, se ele estiver santificado, como dizer do apóstolo:

“Assim, pois, se alguém a si mesmo se purificar destes erros, será utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor, estando preparado para toda boa obra.” [2 Tm 2: 21]

“Assim como oferecestes os vossos membros para a escravidão da impureza e da maldade para a maldade, assim oferecei, agora, os vossos membros para servirem à justiça para a santificação.” [Rm 6: 19]

Daí se dizer em 1 Ts 4: 3a:

“Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação.”

Vemos assim que em quem não ocorreu o novo nascimento do Espírito Santo, não pode existir a inclinação que é para a santificação e por conseguinte para a vida, porque é somente por sua habitação em nós, que podemos tê-la. Os que não são inclinados pelo Espírito Santo permanecem inclinando-se somente para aquilo que é da carne, e que dá para a morte em todos os seus sentidos, sobretudo no que se refere à ausência total da vida de Jesus, por meio da qual somente podemos ser vivificados.

Daí o apóstolo afirmar o seguinte em Romanos 8.5-9:

“5 Porque os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito.

6 Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz.

7 Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar.

8 Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus.

9 Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.”

O crente pode agradar a Deus e estar sujeito à lei de Deus porque por se inclinar para as coisas que são do Espírito Santo a vida ressurrecta de Jesus se manifesta nele, dando-lhe prazer nas coisas celestiais, espirituais e divinas. Ele será achado orando, meditando na Palavra e adorando e servindo ao Senhor em espírito. Mas caso se deixe vencer pela inclinação do velho homem que nele ainda habita, toda esta ação da graça divina em sua vida pode ser apagada, e em vez de ter prazer nas coisas espirituais, seu prazer será voltado novamente para as coisas da carne e do mundo. E nesta condição, ele necessitará de um renovo do Espírito Santo por meio da confissão, do arrependimento e pelo retorno ao exercício dos meios da graça, sobretudo os da oração, meditação da Palavra e comunhão dos santos.

 

E nunca é demais lembrar que este renovo do Espírito é manifestado sobretudo em avivamento do amor no nosso coração, a ponto de nos levar a ser como crianças diante de Deus.

Quão puro e inocente é o olhar de uma criança! Quanto amor elas nos inspiram por sua condição humilde de coração e tão solícita por cuidados e afetos! Daí nosso Senhor ter dito aos apóstolos quando eles ainda pensavam em grandeza segundo o mundo e eram ainda tardos de entendimento e de coração:

“1 Naquela hora, aproximaram-se de Jesus os discípulos, perguntando: Quem é, porventura, o maior no reino dos céus?

2 E Jesus, chamando uma criança, colocou-a no meio deles.

3 E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus.

4 Portanto, aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus.

5 E quem receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe.

6 Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar.” (Mateus 18.1-6)

 

Você quer agradar a Deus? Você necessita da Sua bênção? Então receba as crianças e todos os pequeninos em nome de Jesus, pois assim fazendo você o receberá, conforme tem prometido, porque Deus coloca imenso valor nelas, e Seus anjos velam sobre elas dia e noite. O caminho para o coração de Deus passa por aqueles que são humildes de espírito, de modo que não há ninguém maior no reino do que o próprio Jesus, porque Ele fez a si mesmo o menor de todos, esvaziando-se completamente por amor a nós, como se vê em Filipenses 2.


 

 


 

 

 

 

Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 20/10/2021
Alterado em 10/12/2021
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