Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos

 

1 Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.

2 E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Romanos 12.1,2)

 

Não foi a incrédulos que Paulo dirigiu as palavras de Romanos 12.1,2, no sentido de se transformarem pela renovação de suas mentes, não se conformando ao mundo e oferecendo-se como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus.

Foi aos crentes, e isto é uma referência ao processo de santificação, para a mudança das faculdades da mente, em que Deus implantou a lei da graça, para se tornar efetivamente uma mente espiritual conforme a de Cristo, para o despojamento do velho homem e revestimento da nova criatura, em graus cada vez maiores.

Quando a mente deixa de ser carnal passando a ser espiritual, por uma constante renovação (mudança) pela aplicação da Palavra (Lei da Graça), pelo Espírito Santo, a santificação desse crente não pode ser prejudicada meramente por erros que ele possa cometer, que não sejam intencionalmente pecaminosos ou dos quais em sendo, deles se arrependa, pois lhe é garantido pela Aliança da Graça, a cobertura de multidão de erros e pecados, enquanto ele mantiver sua mente espiritual, sem que haja nisto qualquer incentivo ou estímulo para que continue na prática de pecados, pois, o que se tem em vista são as vitórias da graça sobre os ataques da lei do pecado em tentações, fazendo com que não pratique o que a vontade é instigada a fazer pela lei do pecado que opera na carne, e que no entanto é impedida pela vigilância e ação governante da mente espiritual, por estar fortificada na graça de Jesus.  

Não foi a uma simples questão de errar ou não errar que Paulo se refere à condição de por vezes não se fazer o bem que se pretende e sim o mal que não se quer, em Romanos 7, pois ali se descreve a condição da luta entre a lei do pecado que opera na velha natureza decaída em razão do pecado original, e a lei da graça implantada por Deus na mente e coração do crente, não significando isto que sempre há de ser vitoriosa a lei do pecado quando guerrear contra a alma e a mente do crente. Uma vez que a vitória sempre estará do lado da graça se o crente tiver renovado a sua mente para mente espiritual para vigiar e vencer a lei do pecado sempre que houver a insinuação de tentação ou circunstância em que seja solicitado a pecar.

O importante de tudo é permanecer em Cristo, fortalecer-se nEle e na Sua graça. Manter comunhão ininterrupta com Deus e zelar pelo crescimento e manutenção de uma mente espiritual bem alimentada com a oração e meditação da Palavra da verdade, continuamente.

A santidade não consiste em nenhum ato único de obediência a Deus, embora sejam bons em sua própria natureza e aceitáveis para ele. Porque na verdade, muitos desses atos podem ser realizados por pessoas ímpias, das quais as Escrituras estão repletas de exemplos. O sacrifício de Caim e o arrependimento de Acabe foram sinais, atos únicos de obediência materialmente; e ainda não eram atos de santidade formalmente, nem fizeram ou designaram esses homens como santos. Nosso apóstolo nos diz que os homens podem "dar todos os seus bens para alimentar os pobres, e seus corpos para serem queimados, e ainda assim nada serem," 1 Cor 13.3; no entanto, quem pode ir mais longe em atos individuais? Esses frutos podem brotar de sementes que não têm raiz. Atos isolados podem evidenciar santidade, como a obediência de Abraão fez em sacrificar seu filho; mas nenhum é constituído santo por eles; nem uma série, um curso, ou uma multiplicação de atos e deveres de obediência, ou constituem ou designam qualquer pessoa como santa, Is 1.11-15. Todas as funções - uma série e multiplicação dos quais, naquela passagem, foram rejeitados por falta de santidade - eram bons em si mesmos e designados por Deus.

Nem consiste em uma disposição habitual da mente para quaisquer deveres externos de piedade, devoção ou obediência, embora obtida ou adquirida. Existem tais hábitos, tanto intelectuais como morais. Existem algumas sementes e centelhas de virtude moral remanescentes nas ruínas da natureza depravada por causa do pecado original, como justiça, temperança, fortaleza e coisas do gênero. Portanto, Deus chama os pecadores perdulários para se lembrarem e "se mostrarem homens", ou não agir de forma contrária aos princípios e à luz da natureza, que são indissociáveis de nós como humanos, Is 46.8. Esses princípios podem ser estimulados no exercício de luz natural, ou melhorados por educação, instrução e exemplo, ou por um cumprimento assíduo e diligente de seus atos e atribuições. Alguns podem assim, atingir tal prontidão para eles, e tal facilidade neles, que não é facilmente alterado ou desviado por qualquer meio externo - e este é um hábito moral. Temos em Sócrates um bom exemplo prático disso, com todas as suas virtudes, mas nem por isso ele era um crente e um santo. Da mesma forma, nos deveres de piedade e religião - em atos externos de obediência a Deus - os homens podem se acostumar a esses deveres por meio desses mesmos hábitos, e significa que eles têm uma disposição habitual para o seu exercício. Eu não duvido que seja assim, em alto grau, com muitas pessoas apesar de serem supersticiosas.

Todo ato de verdadeira santidade deve ter algo sobrenatural nele de um princípio interno renovado da graça; e o que não o possui, seja o que for, não é um ato ou dever de verdadeira santidade. Eu chamo esse princípio de santidade de hábito. Não é como se fosse absolutamente ou igual aos hábitos adquiridos, e corresponderia em todas as coisas às nossas concepções e descrições deles. Mas só o chamamos de hábito porque, em seus efeitos e modo de operação, concorda em várias coisas com o os hábitos morais ou intelectuais adquiridos. Mas esta hábito de santidade está muito mais de acordo com um instinto natural e imutável do que com qualquer hábito adquirido. É por isso que Deus acusa os homens, que em sua obediência a ele, eles não agiram de acordo com aquele instinto que outras criaturas têm para seus senhores e benfeitores, Is 1.3; Jer 8.7. Mas nisso Deus "nos ensina mais do que os animais da terra, e nos torna mais sábios do que as aves do céu", Jó 35.11.

Este hábito de santidade se encontra sempre em todos os que são santificados. É por isso que eles estão sempre santos, e não santos apenas quando são realmente exercidos nas funções de santidade. Por este princípio, eles são preparados, dispostos e habilitados para todos os deveres de obediência.

A santidade é aperfeiçoada pelo processo de santificação, que vai aumentando em graus até a confirmação do crente na maturidade em que a mente espiritual está sendo formada e firmada cada vez mais nele, de maneira, que chamamos de hábito a esta permanência em vigilância e vitória sobre o pecado pelo exercicio da lei da graça implantada e confirmada na mente do crente, por infusão do Espírito Santo, pela qual ele discerne todas as coisas, e é a isto que se refere o apóstolo Paulo:

"12 e o Senhor vos faça crescer e aumentar no amor uns para com os outros e para com todos, como também nós para convosco,

13 a fim de que seja o vosso coração confirmado em santidade, isento de culpa, na presença de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus, com todos os seus santos." (I Tessalonicenses 3.12,13)

"Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal." (Hebreus 5.14)

E também o apóstolo Pedro:

"Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar." (I Pedro 5.10)

(1.) Hábitos que são adquiridos por muitas ações têm uma eficácia natural para se preservarem, até quando alguma oposição que é muito dura para eles, prevalece contra eles. Mas este princípio de santidade é preservado em nós pelos constantes atos poderosos e influência do Espírito Santo. Ele que o trabalha em nós, também o preserva em nós. E a razão para isso é porque a fonte está em Cristo Jesus, nossa Cabeça; é apenas uma emanação de virtude e poder dele para nós, pelo Espírito Santo. Se isso não for realmente e sempre continuado, tanto faz estar em nós, morreria e murcharia por si mesmo. Veja Ef 4.15,16; Col 3.3; João 4.14. Está em nós como a seiva frutificante está em um ramo de videira ou oliveira. Está aí real e formalmente, e é a causa da produção de frutos do ramo. No entanto, ele não vive e permanece por si mesmo, mas apenas por uma emanação contínua e comunicação da raiz; deixe essa comunicação ser interceptada, e o ramo murcha rapidamente.

A falta do conhecimento desta verdade é uma das causas de haver pouco progresso em santidade em muitos crentes, porque podem estar sendo doutrinados com um evangelho diferente daquele ensinado por Cristo e os apóstolos, que não afirma estar o crente santificado por simplesmente adquirir hábitos religiosos, estando ausente esta santificação operada pelo Espírito Santo. Se além de viver no Espírito, ele não andar no Espírito pela prática da Palavra de Cristo, não haverá o fruto de santidade do Espírito, senão as obras da carne.

(2.) Embora este princípio ou hábito de santidade seja do mesmo tipo ou natureza em todos os crentes que estão se santificando, ainda existem graus muito distintos disso neles. Em alguns é mais forte, mais vivo, mais vigoroso e florescente; em outros isso é mais fraco e menos ativo; isto é em uma variedade tão grande, e em tantas ocasiões, que não pode ser falado aqui.

(3.) Mesmo que este hábito e princípio não seja adquirido por qualquer ou muitos atos de dever ou obediência, mas é preservado, aumentado, fortalecido e melhorado por meio do dever. Deus designou que devemos viver no exercício deste hábito. E na e pela multiplicação de seus atos e deveres, é mantido vivo e despertado, sem o qual será enfraquecido e decadente.

Nós vemos assim que a realidade e o valor da santificação está na sua continuidade em operar em graus nos crentes para levá-los à plena maturidade. Quão essencial é isto para a manutenção da vida espiritual e sobrenatural recebida de Deus na regeneração (conversão inicial)! Imaginar a regeneração sem a santificação, seria o mesmo que plantar uma semente e não regá-la e não cercá-la de tratos culturais até que se transforme em um ser adulto habilitado a dar frutos. Você vê então como a santificação é a razão de ser da regeneração? E a semente que foi implantada no crente é incorruptível, a saber a Palavra do Reino de Deus revelada por nós no evangelho de Jesus Cristo (I Pedro 1.23 - "23 pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente.")

 

 

Sem a Presença de Jesus não Há Vida

 

O ramo que frutifica

está ligado à videira

e recebe do caule a seiva

que chega a ele desde a raiz.

 

Fora de Cristo não há vida

e se como os ramos da videira

permanecermos sempre nEle

o Espírito Santo como Sua seiva

produzirá em nós os frutos de justiça.

 

Onde o fruto do Espírito prevalece

as obras da carne desaparecem.

Somos podados e limpos por Deus

quando nos negamos

e carregamos a nossa cruz,

seguindo sempre a Jesus.


 

Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 28/01/2022
Alterado em 21/06/2022
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