Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos

 

Santidade Não É Espiritualidade Genérica
Será que já surgiu uma frase mais competente no contrabandear de confusão doutrinária e frouxidão moral que o chavão “espiritual, não religioso”? Dando o desconto, para alguns isso significa “eu desejo um relacionamento pessoal, transformador de vida com Deus, e não me satisfazer com simples presença à igreja”. Mas com grande frequência a expressão implica em um desgostar de padrões teológicos, absolutos morais, e religião organizada. Ser espiritual no jargão moderno significa estar aberto a mistério e ter interesse em coisas “espirituais” como oração, cura, paz interior e um sentido abstrato de amor.
Verdadeira espiritualidade significa ser  transformado pelo Espírito através da comunhão com o Pai e com o Filho. Se você se interessa por espiritualidade, sua prioridade deveria ser crescer em santidade que procede do Espírito. Justiça é o alvo do discipulado cristão. “No mundo cristão contemporâneo, tal afirmativa poderá soar radical”, observa R. C. Sproul. “Muitos têm me abordado acerca de serem éticos, morais, espirituais e até piedosos. Mas ninguém parece estar interessado em falar de justiça”. Ser salvo pela graça convertedora do Espírito, ser selado coma garantia absoluta do Espírito, e ser santificado pelo poder interior do Espírito – é isso que significa ser espiritual.
Santidade Não É “Encontrar Meu Verdadeiro Eu”
Na sociedade ocidental secular, a pessoa verdadeiramente boa é a que aprendeu a ser genuína consigo mesma. Anna Quindlen, por exemplo (que já escreveu para o New York Times e para a revista Newsweek ), disse o seguinte a um grupo de formandos:
Cada um de vocês é tão diferente quanto suas digitais. Porque seguirem os outros sem pensar? Nosso apego a esse seguir os outros sem pensar é nossa maior maldição, a fonte de tudo que nos atormenta. É a fonte de toda homofobia, xenofobia, racismo, sexismo, terrorismo, intolerância de toda espécie e matiz, porque nos diz que há uma única forma certa de se fazer as coisas, de se olhar, de se comportar, de sentir, quando a única forma correta de sentir é seu coração reclamando e parar para ouvir o que seus timbales têm a dizer.
Parece que a Dra. Quindlen está dando bastante crédito a meu pequeno timbale interior. E se seu timbale for homofóbico, xenofóbico, racista ou sexista? Ou será que todos os seus vícios podem ser atribuídos a seguir os outros sem pensar – afinal, toda gente ruim não segue os outros e toda gente boa não faz o que lhe dá na telha? E se você seguir o conselho de Quindlen e rejeitar a lista de intolerâncias que ela menciona? Será que isso faz de você um perdedor que segue os outros? Você consegue ouvir seus timbales e a paraninfa da turma ao mesmo tempo? Penso ser um credo central do pós-modernismo que você pode marchar ao ritmo de seu próprio timbale, desde que ele toque no compasso do meu.
Mas e se seu bongô estiver em descompasso com o Deus do universo? Estão nos dizendo que existe um lado bom em todos nós.
Milhares de filmes têm procurado retratar que o propósito da vida é encontrar seu verdadeiro eu. Aprendemos de incontáveis programas de televisão que nosso mais alto chamamento é acreditar em nossas possibilidades. O mundo insiste em santidade. Não permita que lhe convençam do contrário. Mas a santidade do mundo não se encontra em ser fiel a Deus; encontra-se no ser fiel a si mesmo. E ser fiel a si mesmo invariavelmente significa ser fiel à definição de tolerância e diversidade de outra pessoa.
Santidade Não É  O Jeitão do Mundo
Jamais progrediremos em nossa santidade se estivermos aguardando que o mundo festeje nossa piedade. Com certeza, de vez em quando valores culturais irão se sobrepor a valores bíblicos. No ocidente, racismo explícito não é tolerado. Em países muçulmanos, franze-se a sobrancelha diante do homossexualismo. No chamado Bible Belt norte americano, encoraja-se a frequência à igreja. Mas “mundo” não é outra forma de referir-se às “pessoas que nos rodeiam”. O padrão do “mundo” é o defender tudo que se opõe à vontade de Deus. Na forma mais simples, isso equivale ao texto que fala sobre “a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens”(1 João 2.16). Ou, em outras palavras, mundanismo é aquilo que faz o pecado parecer normal e o que é correto parecer estranho.

 Algumas nações e culturas são melhores que outras, mas em toda sociedade há um princípio de Babilônia que guerreia contra os filhos de Deus (Apocalipse 17-18).
Mundanismo é problema sério. A Bíblia declara que “Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele” (1 João 2.15). Os cristãos costumavam falar sobre mundanismo e temer sua influência rastejadora. Hoje, entretanto, se você fala em se vestir de maneira mundana, ou gastar dinheiro de forma mundana ou buscar entretenimento mundano, tudo que é provável que você ouça é uma risada contida. Mundanismo é aquilo que incomodava nossos avós. Temos um planeta a salvar e não temos tempo para nos preocupar com trivialidades. Nós simplesmente não acreditamos mais que amizade com o mundo é inimizade contra Deus (Tiago 4.4).
Muitos cristãos têm a noção equivocada de que se simplesmente formos cristãos melhores, todos nos aplaudirão. Não percebem que santidade paga um certo pedágio. É claro que podemos nos concentrar nas virtudes que o mundo aprecia. Mas se você levar a sério a verdadeira religião que cuida dos órfãos e promove pureza (Tiago 1.27), você perderá amigos que lutou tanto para conquistar.
Tornar-se sacrifício vivo, santo e aceitável a Deus, exige que você resista ao mundo que deseja conformá-lo a seu molde (Rm 12.1-2). Guardar-se puro para o casamento, ficar sóbrio numa 6ª feira à noite, abrir mão de uma promoção só para poder continuar frequentando a igreja, recusar-se a dizer palavras parecidas com palavrões, desligar a televisão – esse é o tipo de coisa que o mundo não entende. Não espere que entendam. O mundo não fornece incentivadoras de torcida no caminho da santidade.

 


 

Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 28/01/2022
Alterado em 05/09/2022
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