Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos

 

É importantíssimo que a consciência do cristão esteja limpa. É por isso que Paulo declarou: “Por isso, também me esforço para ter sempre consciência pura diante de Deus e dos homens” (At 24.16). Ele frequentemente se referiu ao testemunho de sua consciência como sua “glória”e como indicação de sua retidão moral (Rm 9.1; 2 Co 1.12; 4.2). Paulo reconheceu que poderia estar equivocado em sua autoavaliação, mas era importante para ele não estar informado de nada contra si mesmo (1 Co 4.4). Quando violamos nosso senso de certo e errado, mesmo se nossa ação em si não seja pecaminosa, somos culpados de pecar. “Tudo que não provém de fé é pecado” (Rm 14.23). Ou seja, se você não crê que o que está fazendo seja aceitável, então não é aceitável que você o pratique. Você não pode ignorar sua consciência.
Suponhamos que você tenha crescido pensando que ingerir bebida alcoólica é errado. Ou seja, sempre errado, ao ponto de preferir ingerir soda cáustica a ingerir Bud Light. Mas agora você frequenta uma igreja que diz que ingerir bebida alcoólica não é algo pecaminoso, desde que você tenha idade para isso e não beba em excesso. O que você deveria fazer? Se estiver convicto de que a Bíblia aprova a ingestão de álcool com moderação, nesse caso você está livre para beber (1 Tm 5.23; conf. Jo 2.1-11). Mas se ainda lhe causa aversão, você deveria se abster. Mesmo que a Bíblia lhe dê farol verde, o farol vermelho de sua consciência não deveria ser transgredido. É por isso que passagens como 1 Coríntios 8 e 10 e Romanos 14 repreendem cristãos possuidores de “consciência forte” que lideram cristãos de “consciência fraca” quanto a fazerem coisas que seriam erradas para os tais. O perigo é que, se você violar sua consciência nesse pormenor (mesmo que a ação em si não seja proibida), você aprenderá a desobedecer sua consciência em outras questões.
Deixe-me fornecer dois exemplos de minha própria vida em que procurei (e por vezes falhei em) ouvir minha consciência. A primeira diz respeito a cinema, e a segunda, a namoro.
Eu não sou fanático por filmes. Sinto que já assisti o suficiente, tanto que se hoje tiver uma noite livre, prefiro ler um livro, jogar um jogo, assistir a um jogo desportivo a assistir um filme. Já minha esposa, por outro lado, gosta de filmes, em especial dramas produzidos pela BBC e outros filmes bastante inocentes. Mas por vezes surgem cenas que me inquietam. São geralmente sensuais ou sexuais em natureza. Não é preciso muito para que me sinta culpado. Será que isso é porque sou mais sujeito a tentação visual? Com certeza, isso faz parte. A sensibilidade de minha consciência é sinal de que estou progredindo em santificação? Não tenho certeza.
Preciso tomar cuidado (especialmente com filmes) para que não pressuponha que minhas dores de consciência significam que todos os demais que estão assistindo estão cometendo pecado. Mas quando minha consciência é aguilhoada, eu não deveria continuar assistindo. Uma consciência sensível não é lá coisa para se jogar fora.
Casualmente, com o passar dos anos aprendi que a maneira mais simples de julgar essas áreas cinzentas como filmes, televisão, música, é fazer uma pergunta bastante simples: posso agradecer a Deus por isso?  (Devemos dar graças em todas as circunstâncias, certo?) Há não muito tempo, minha esposa e eu fomos ao cinema para assistir um dos lançamentos do verão. Era um filme cômico, proibido para menores de 13 anos e provavelmente poderíamos dizer que não tinha nenhum trecho ruim. Mas em vários momentos era relativamente sensual e sugestivo. Cheguei no cinema (sim, eu assisti ele inteiro) e pensei: “Posso realmente agradecera Deus por isto?” Veja bem, eu não sou um estraga prazeres dos piores. Gosto de rir e curtir a vida. Consigo agradecer a Deus pelo Chicago Bears , Hot N’ Readys  e Brian Regan.  Mas sinceramente me pergunto se após a maior parte do entretenimento em que nos regalamos, poderíamos sinceramente ajoelhar e dizer: “Grato, Senhor, por este presente”. Algo para pensarmos.
O outro exemplo diz respeito a namoro. Quando minha esposa e eu namorávamos, tínhamos nossas dificuldade com onde colocar os limites para nosso relacionamento físico. Como no caso de muitos casais (até mesmo os cristãos, e os que estão se preparando para o ministério pastoral), a luta só se acirrou depois que ficamos noivos. Procurei conselho com vários cristãos que respeitava muito, alguns casados, outros noivos como eu. Me passaram conselhos conflitantes sobre “quão longe é longe demais”. É claro, o sexo estava fora de questão,  assim como várias outras coisas a caminho do sexo. Mas onde é que cristãos deveriam estipular o limite?
O que sei é que, mesmo que tenhamos parado bem longe do ato sexual em si, não ajudou em nosso relacionamento físico. Se não fizemos outra coisa, pelo menos minha esposa e eu pecamos contra nossa consciência, mesmo que alguns amigos pudessem “ir mais longe” e ainda assim não se sentirem culpados. Foi somente depois de casados que vimos claramente o nosso pecado e eu pedi perdão à minha esposa e a Deus.
Quando o assunto é intimidade física antes do casamento, penso que muitos cristãos estão, objetivamente falando, pecando, mesmo que sintam que não estão. Mas falarei mais a respeito disso posteriormente. O que desejo que você veja neste momento é que escolhas questionáveis, até mesmo as aceitáveis, são pecaminosas quando você não se sente bem. Cristãos não deveriam violar, e nem pressionar outros a violarem, o que suas consciências acusam como sendo errado.

 


 


 


 


 


 


 


 


 

 

Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 28/01/2022
Alterado em 05/09/2022
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