Legado Puritano

Quando a Piedade Tinha o Poder

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Mente Natural e Mente Espiritual – Parte 9

A mente espiritual é abastecida principalmente pelo ouvido e visão espirituais, de maneira que somente aqueles que andam no Espírito estão capacitados a ouvir as coisas que o Espírito Santo está falando à Igreja para que sejam obedecidas e praticas por eles, bem como a abertura da visão e inteligência espirituais que capacitam o crente a discernir todas as coisas, tanto as relativas ao bem quanto ao mal. Daí a repetição feita por Jesus nas cartas dirigidas às sete igrejas nos segundo e terceiro capítulos de Apocalipse, advertindo que poderiam ser atendidas somente por aqueles que tivessem ouvidos para ouvir as coisas que o Espírito Santo estava dizendo.    Quem não é do Senhor, e que por conseguinte, não possui o Espírito, não pode ouvir as coisas que são espirituais, celestiais e divinas, que, como já vimos antes em I Cor 2 somente podem ser discernidas espiritualmente, no Espírito.

5 Eles procedem do mundo; por essa razão, falam da parte do mundo, e o mundo os ouve.

6 Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele que não é da parte de Deus não nos ouve. Nisto reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro. I João 4.5,6.

42 Replicou-lhes Jesus: Se Deus fosse, de fato, vosso pai, certamente, me havíeis de amar; porque eu vim de Deus e aqui estou; pois não vim de mim mesmo, mas ele me enviou.

43 Qual a razão por que não compreendeis a minha linguagem? É porque sois incapazes de ouvir a minha palavra.

44 Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.

45 Mas, porque eu digo a verdade, não me credes.

46 Quem dentre vós me convence de pecado? Se vos digo a verdade, por que razão não me credes?

47 Quem é de Deus ouve as palavras de Deus; por isso, não me dais ouvidos, porque não sois de Deus. João 8.42.47.

12 Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento sólido.

13 Ora, todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança.

14 Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal. Hebreus 5.12-14.

5 Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente. Rom 14.5

Nesta última passagem, o que está sendo abordado é o assunto de os crentes terem uma opinião bem definida em suas mentes, quanto às suas preferências comuns e naturais (como por exemplo o que comer, vestir etc) sem julgarem e reprovarem as preferências de outras pessoas. Evidentemente, estas preferências não devem ser contrárias à vontade de Deus, a qual é absoluta e deve ser cumprida à risca por todos. Não se trata portanto de que cada um pode escolher o tipo de doutrina segundo a sua própria vontade; pois a sã doutrina é absoluta e deve estar conformada às sãs palavras de Jesus Cristo e do ensino do Espírito Santo através de seus apóstolos nas Escrituras.

10 Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer. I Cor 1.10

Pelo que foi tratado na passagem anterior, podemos entender que o mandamento desta de I Cor 1.10 refere-se sobretudo à sã doutrina e à forma de se conduzir na comunhão dos santos, e não propriamente que todos os crentes devem ter o mesmo pensamento em relação a todas as coisas, o que seria até mesmo impossível.

16 Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo. I Cor 2.16;

Não podemos conhecer todo o conselho da vontade de Deus e o fundamento de todos os seus decretos, mas podemos discernir qual seja a sua vontade para a nossa vida e conduta, por termos a mesma mente de Cristo pela qual podemos discernir tudo o que foi revelado para o nosso crescimento espiritual na verdade e no amor de Deus.

14 Porque, se eu orar em outra língua, o meu espírito ora de fato, mas a minha mente fica infrutífera.

15 Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com a mente; cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente. I Cor 14.14,15

 A referência à mente nesta passagem de I Cor 14.14,15 é ao entendimento consciente de nossa faculdade racional, em contraposição à manifestação do dom espiritual sobrenatural de falar em línguas, que não pode ser interpretado pela mente racional, de modo que ambos devem ser exercidos no ajuntamento dos santos com sabedoria e ordem, de maneira que não se ore e louve apenas em línguas que não podem ser compreendidas, mas que também sejam usadas palavras que possam ser entendidas por todos.

Ao falar em outras línguas, a própria pessoa que fala, não entende o que está falando, a não ser que haja alguém para interpretá-lo; mas como fala em Espírito, edifica-se apenas a si mesmo, e não a outros, de maneira que o apóstolo não recomenda o uso de outras línguas espirituais no ajuntamento dos santos, colocando sua importância, atrás, por exemplo dos demais dons, sobretudo do de profetizar, com o qual toda a igreja pode ser exortada, consolada e edificada. Todavia, não se deve proibir o falar em outras línguas na igreja, mas tudo deve ser feito com ordem e decência.

Os dons extraordinários espirituais, listados em I Cor 12 e 14, são operações sobrenaturais do Espírito Santo que podem ser estendidas a todas as pessoas, conforme ele quiser, e até mesmo a um animal como foi o caso da mula de Balaão, que falou para repreendê-lo em sua loucura. Judas, que era um filho da perdição, sequer não convertido, portanto, deve ter usado algum dom sobrenatural quando foi enviado por Jesus para curar enfermos. Saul profetizou. A Igreja de Corinto  abundava em todos os dons sobrenaturais, e no entanto é a única igreja a que Paulo chama de carnal, composta de muitos membros que não eram crentes espirituais; e não é para ficarmos admirados de que foi justamente a esta igreja que Paulo dirigiu as instruções e exortações  na primeira epístola que lhes escreveu, para lhes esclarecer que deveriam se esforçar para obter uma mente espiritual renovada, porque é somente nesta que o fruto do Espírito Santo é produzido para a transformação do crente, por estar sob o trabalho da graça em sua mente e coração, produzindo sobretudo o amor, a que o apóstolo chama de caminho sobremodo excelente, ou seja, o que é mais importante do que tudo, e pelo qual somos habilitados a ter pensamentos e ações que são segundo o coração do próprio Cristo, em paciência, benignidade, misericórdia, paz, etc., em todas as circunstâncias.

1 Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine.

2 Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei.

3 E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará.

4 O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece,

5 não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal;

6 não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade;

7 tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

8 O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará;

9 porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos.

10 Quando, porém, vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado.

11 Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino.

12 Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei como também sou conhecido.

13 Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor. (I Cor 13.1-13).

E Paulo conclui esta passagem de I Cor 13, afirmando o seguinte logo a partir do primeiro versículo do capítulo 14:

1 Segui o amor e procurai, com zelo, os dons espirituais, mas principalmente que profetizeis.

2 Pois quem fala em outra língua não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios.

3 Mas o que profetiza fala aos homens, edificando, exortando e consolando.

4 O que fala em outra língua a si mesmo se edifica, mas o que profetiza edifica a igreja. (I Cor 14.1-4).

O que ele quis dizer: busquem os dons espirituais, sobretudo o de profetizar, mas sigam o amor, ou seja, priorizem a transformação da mente de vocês, renovem-na diariamente, andando no Espírito Santo, para viverem e andarem no amor de Deus, e de uns para com os outros.

 

O amor divino trabalhado pelo Espírito Santo em nossa mente e coração depende de que haja comunhão espiritual com Deus e coparticipação da natureza divina em santidade; já os dons espirituais sobrenaturais não  o demandam, e é isto que explica que é possível que crentes carnais como os de Corinto, até mesmo profetizem, falem em outras línguas etc, sem que tenham qualquer comunhão real com Deus, por falta de um viver na justiça, no amor e na verdade.

Mas o que tem a ver a mente espiritual com tudo isto? Qual a sua importância e necessidade? Como Paulo chegou à conclusão de que a igreja de Corinto era carnal? Ele havia sido informado por pessoas da família de Cloé que estava havendo muitas divisões entre eles, e que partidos estavam se formando para combaterem mutuamente. Isto já era um sinal bastante evidente de carnalidade, mas havia muitas outras coisas que o indicavam.

Então, indo direto ao ponto, principalmente pelo exame do que é dito no capítulo 13 que acabamos de ler. Veja que se destaca que o amor é paciente e benigno, que não se ufana, que não se ressente do mal, que é longânimo, que tudo crê, espera, sofre e suporta, dentre outras características, que apontam que tudo o mais é de nenhum valor sem isto.

Podemos ver então que a mente espiritual não é algo como um estado de êxtase, ou de se ter muito conhecimento etc, mas a obtenção e criação de um hábito de não se ressentir; não se irritar facilmente; de completa paciência com injúrias sofridas, sem injuriar de volta; de bondade e tolerância para com os fracos; de humildade diante de Deus e dos homens; e tudo isto e muito mais só pode ser adquirido por um longo caminhar com Deus exercitando-se em justiça, verdade e santidade. O amor é dependente de uma fé genuína, de uma boa consciência e de um coração puro. Se faltarem estes ingredientes, não haverá o amor de Deus atuando no nosso coração.

Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 01/03/2025
Alterado em 04/03/2025
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